terça-feira, 19 de julho de 2016

Nath Escritora #03 - A Arena



         Olar, pessoas maravilhosas! Hoje trago-lhes o terceiro textaum maroto que a Nath escreveu. Espero que gostem!
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      Fui acordada por meu pai quando estava usando meu pijama padrão: calças largas de moletom cinza e blusa preta de academia. Meu pai estava totalmente vestido, usando um terno bege de aparência cara e com os cabelos penteados para trás.

         - Está quase na hora – ele disse, apontando para o seu relógio de pulso de ouro. Faltava meia hora para três da manhã.

         Meu pai me puxou da cama e me levou para fora de casa, sem me deixar trocar de roupa. A cidade lá fora estava movimentada, mesmo sendo o meio da madrugada. Carros passavam como borrões e luzes de todas as cores piscavam por toda a parte. No entanto tudo estava escuro, como que envolto num filtro índigo e violeta.

         Fui empurrada para dentro do carro de meu pai, e então ele dirigiu pela cidade como um louco, fazendo curvas perigosas e falando no telefone celular. Eu não conseguia entender o que ele dizia, pois deveria ser em outra língua.

         Logo mais chegamos ao nosso destino. Meu pai desligou o carro, deixando o interior do veículo completamente imerso em escuridão azulada. Papai bateu no vidro do carro, pedindo que eu também saísse. Obedeci.

         Estava ventando forte lá fora e tudo parecia escuro, exceto a entrada de um edifício grande e cor de osso. A entrada era altiva e lembrava a entrada de uma igreja, exceto que aquela construção podia ser qualquer coisa, menos divina. Havia um símbolo desenhado numa bandeira violeta na entrada. O símbolo era vermelho e com desenhos de espirais entrelaçadas. Era lindo, mas assustador.

         Meu pai me guiou para dentro da construção e lá dentro era diferente de tudo o que eu imaginava. Tudo parecia bege e dourado, e havia vários homens e mulheres mais velhos usando roupas elegantes, como as de meu pai.

         Havia outros jovens como eu: garotos e garotas usando roupas violetas e índigo com o mesmo símbolo vermelho desenhado no peito. Outros adolescentes pareciam tão perdidos quanto eu, usando pijamas e roupas de moletom.

         As pessoas que obviamente já estiveram ali antes estavam comendo petiscos com aparência cara, provavelmente frutos do mar, e bebiam champanhe dourado em taças brilhantes. Um garoto de cabelos loiros usando pijamas confortáveis chegou perto de mim. Ele colocou as mãos em meus ombros com força, me apertando.

         - O que está acontecendo? – me perguntou. Parecia extremamente desesperado.

         De repente uma sirene soou e a sala ficou escura. Todos os adultos e os jovens de uniforme convergiram para uma porta do lado oposto da que eu tinha entrado.

         - Não faço a menor ideia – respondi, me livrando do aperto do garoto e deixando-o sozinho na escuridão.

         Segui a multidão e descobri que, do outro lado da porta, havia algo parecido com um estádio de futebol, mas sem o campo. Arquibancadas extensas existiam dos dois lados, mas os homens e mulheres elegantes só se sentaram perto da porta. Os adolescente formaram um barreira nas grades, se empurrando para ver o que havia lá embaixo. Cheguei mais perto e também vi.

         Do outro lado havia uma porta muito parecida, mas de lá saiam pessoas com roupas sociais escuras. Pareciam roupas caríssimas, mas sem pompa ou frescuras. Homens e mulheres – pais dos adolescentes? – ocuparam mais espaço nas arquibancadas enquanto jovens usando uniformes verdes e azul-turquesa, com um símbolo negro no peito, que lembrava garras pontudas, entravam por todos os lados e se penduravam nas grades.

         A arena lá embaixo era um pedaço de pedra escura cercada por água tão negra que não podia ser pura. Tochas de fogo azulado estavam acesas por toda a parte, e foi então que um adolescente de cabelos castanhos curtos de uniforme verde e azul-turquesa pulou para o meio da arena.

         Na minha visão, um pulo daqueles teria feito-o quebrar pelo menos três costelas e ambas as pernas, mas ele parecia muito bem. Ele levantou os braços e as pessoas do outro lado da arquibancada gritavam, enlouquecidas. Os adolescentes do meu lado começavam a vaiá-lo, e foi então que alguém empurrou o garoto de cabelos loiros de antes para o meio da arquibancada.

         Ele caiu com força, e o barulho de sua queda calou a todos no ambiente. Espantosamente, ele conseguiu ficar de pé alguns segundos depois, desorientado, mas bem.

         O garoto de uniforme turquesa não perdeu tempo esperando seu oponente se recuperar. Ele abriu a mão em frente a seu rosto e um facho de luz dourada surgiu ali. A luz dourada atraiu, de alguma forma, uma quantidade de ar em volta dele, fazendo com que seus cabelos ondulassem e suas vestes subissem, como se tivessem vida própria.

         A luz dourada desapareceu e o garoto loiro começou a flutuar, sem entender o que acontecia a seu redor. Ele foi atirado com força em direção à parede e uma cachoeira de sangue escorreu de seus lábios e nariz. O garoto escorregou lentamente e caiu na água. Ficou lá por dois longos minutos, até que o um número se materializou no centro da arena: 86.

         As pessoas do outro lado da arena gritavam de prazer enquanto seu guerreiro cerrava os punhos e encavara o chão. Parecia sentir dor. Os adolescentes anunciavam um grito de guerra bem ensaiado:

Lutamos ao lado dos homens bons
E nenhum feixe de escuridão pode existir
Onde há luz

         Do meu lado da arena, todos os adolescentes olharam para trás, e eu os imitei. Um homem em um terno preto e de gravada azul observava a arena, de pé, sem acreditar no que via. Depois de uns bons segundos de contemplação, a surpresa fugiu de seu rosto, sendo substituída por uma expressão séria.

         - Desapontamento. Isso é o que ele sempre foi – Disse, e saiu da arquibancada a passos lentos.

         As pessoas do meu lado esqueceram o homem rapidamente quando o lado oposto gritava para que mandassem mais alguém. Foi então que senti uma mão em meu ombro. Olhei para trás.

         Um garoto alto, de cabelos negros espetados num moicano punk e usando mais piercings do que eu podia contar, me encarava. Ele segurou minha mão e colocou algo dentro dela: um amuleto em formato de cristal, de cor roxa e pesado.

         - Me devolva depois – disse, e me empurrou para a arena.

         Caí de costas e fiquei no chão por uns bons 10 segundos. Eu ouvi vaias e gritos de encorajamento, levemente abafados por um chiado em meus ouvidos. Fiquei de pé, sentindo meu corpo doer, mas nada muito sério. O garoto de uniforme turquesa me encarava com um sorriso de vampiro, mas exalava hesitação.

         - Vou fazer algo diferente desta vez – disse, e andou em minha direção.

         Eu estava sem saber o que fazer e fiquei parada, assistindo ele se aproximar a passos sonoros. Quando vi que ele estava chegando muito perto, comecei a recuar, mas não pude mais andar quando meus pés chegaram nos limites da arena e tudo o que restava era água negra e turva. Ao estar frente a frente comigo ele tocou minha garganta com um dedo e eu senti todo o ar fugir de meus pulmões. Desabei sobre ele, segurando suas roupas e olhando-o nos olhos. Ele sorria, mas o sorriso não chegava aos seus olhos.

         Ele tinha poder, mas tinha medo de usá-lo.

         O amuleto ainda estava em minha mão, então tentei me concentrar nele. Senti a pedra ficando quente em minha mão direita, e o garoto recuou no mesmo instante. Vi que havia queimado sua roupa e sua pele onde a pedra tocava.

         Quando percebi que podia respirar novamentem eu pude ouvir a arena explodindo de gritos lá em cima. Não conseguia reconhecer ninguém, em nenhum dos lados.

         Eu estava sozinha.

         - Como fez isso? – O garoto me perguntou, incrédulo.

         Minha voz parecia muito enferrujada, então tudo o que fiz foi estender o amuleto para ele. Ao ver a pedra sua expressão tomou a escuridão à sua volta e ele parecia cheio de ódio. Hesitei, e foi então que o amuleto explodiu em chamas laranjas e amarelas em minha mão. Era quente, mas não me queimava.

         Instintivamente, joguei o amuleto longe. E foi então que uma cortina de fogo brilhante se estendeu à minha frente, queimando tudo o que estava ali.

         O fogo se dispersou alguns segundos depois, e tudo o que restava na arena era eu, com a expressão lívida, um cadáver carbonizado, e um amuleto brilhante entre nós.


         E um número 1 brilhante sobre minha cabeça.


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