quarta-feira, 6 de julho de 2016

Matutando #19 - A internet é um lugar maravilhoso

"Pssst, como eu ligo esse negócio?"
Eu odeio quando alguém fala mal da internet. Odeio ver aquelas tirinhas pretensiosas com crianças segurando livros e se perguntando como se liga um livro. Caros adultos e idosos chatos: não é por que vocês não sabem usar um computador que a gente não sabe usar um livro. Nós já estamos escrevendo alguns deles, na verdade. Livros de ficção até artigos científicos. Tem adolescentes escrevendo autobiografias e eles tem muito o que falar nelas.

O negócio é que eu tenho raiva de quem fala mal da internet. Uma pessoa que fala que a internet é um antro de más influências claramente não faz ideia de como usar a internet e de como ela é a maior benção que existe nas nossas vidas. Hoje em dia a gente usa a internet para tudo, mas esse nem é o ponto que eu quero tocar, por que todo mundo já sabe disso.

Meu nome é Júpiter e eu sou filho da Nathalia. Eu vivo no ano de 2038, tenho dezesseis anos e eu tenho que escrever um trabalho sobre a situação política brasileira no Brasil no segundo mandato da presidenta Dilma Rouseff. Por causa da internet, eu posso ir até o perfil do Facebook da minha mãe naquela época e ver o que ela postava sobre o assunto. Ela era contra ou pró impeachment? Ela sabia do que se tratava a crise? O que ela pensava sobre outros assuntos, como corrupção, os escândalos envolvendo políticos, o que ela achava dos movimentos sociais? Graças à internet, eu vou poder ver todas essas coisas, e ver também a opinião de pessoas que comentavam nos textos da minha mãe.

Um dia, quando eu tiver meus próprios filhos, eu vou entrar no perfil da minha mãe no Instagram e mostrar todo o feed dela. Meus filhos vão ver a avó deles com cabelos azuis, tirando fotos de literalmente todos os livros e quadrinhos que ela leu durante todo o tempo de vida. Meus filhos vão ver títulos dos quais nunca ouviram falar ("papai, o que é esse A Culpa é das Estrelas?") e vão ver livros que serão clássicos no tempo de adolescência deles ("não aguento mais ver minha professora de literatura falando de Harry Potter!").

Vou ler o blog da minha mãe de cabo a rabo e rir de todas as resenhas malucas que ela fazia. Vou assistir ao vlog dela e achar incrível como minha mãe falava rápido demais e como o cabelo dela era absurdamente armado. Vou ver no fundo do vídeo todos os livros que eu li enquanto crescia, inclusive aquele que eu destruí por que derrubei refrigerante (acho que era uma edição de colecionador de Percy Jackson). Meus bisnetos vão entrar no meu blog e ver meu post falando sobre os melhores posts no blog da minha mãe, tataravó deles. Eles vão entrar no Instagram dela e não vão acreditar numa pessoa que assistiu Capitão América: Guerra Civil NO CINEMA, na mesma época em que anunciaram que o Cap era da HYDRA e AINDA era o Steve Rogers. Meus bisnetos vão pensar: "ainda bem que deram reboot nesse arco, #teamROMANOFF, #GerraCivil28".

A filha mais velha do meu neto mais novo vai entrar no canal da minha mãe e vai ver o vídeo do casamento dela e vai decidir encomendar um vestido inspirado no dela. Ela vai entrar no Instagram da minha mãe e vai ver várias fotos dela com o meu pai e vai se perguntar se a tataravó iria odiá-la por ser lésbica e trans. Mais tarde, descobriria que não, que minha mãe sempre apoiou os LGBT+. Por que ela viu no Facebook.

Um adolescente qualquer, num belo dia do ano 2171, vai entrar no blog da minha mãe e encontrar um link para todos os livros que ela escreveu, para download gratuito. Ele vai ler tudo e vai achar aquilo maravilhoso. Ele vai divulgar pros amigos e amigas dele e os livros farão um sucesso absurdo. Minha mãe vai ser um novo Douglas Adams, mas só por alguns anos. Até ela ressurgir em 2465, quando os livros dela serão MUITO cults.

No futuro, meus netos vão se divertir assistindo vídeos de youtubers antigos. Vão chorar de rir dos vídeos antigos do Buzzfeed, com gente dinamarquesa comendo comida japonesa e achando horrível. Todo mundo vai comer comida japonesa no futuro, que absurdo eles terem tanta frescura com isso.

Meu filho mais velho vai se formar aos 65 anos em história (igual meu pai!) (38 anos como professor de Educação Física foi o suficiente) e fazer um TCC sobre o discurso de ódio no Brasil no começo do século XXI. Vai ver vídeos de políticos falando que os filhos jamais se casariam com uma mulher negra por que foram "criados direito", que "ser gay se resolve na porrada" e, é claro, o lendário vídeo falando bem de um torturador da Ditadura Militar. Meu filho não poderá entrevistar minha mãe, mas vai poder ler todos os textos dela publicados no Facebook sobre o assunto. Vai ver textos de outras pessoas comuns e de políticos da época. Meu filho vai tirar um 10 no TCC, e mesmo eu estando tão velho eu ainda irei lá assistir a banca dele. Meu filho é um cara incrível, sério.

Eu sou Nathalia. Eu estou no ano de 2016, e eu uso a internet para tudo. É a melhor coisa que já me aconteceu. Um dia, quando eu já tiver morrido há muito tempo, alguém vai ver esse texto. Essa pessoa pode discordar de absolutamente tudo o que eu falar. Essa pessoa pode achar que eu sou a Mãe Diná (quem diria que todos os meus descendentes fizeram todas essas coisas mesmo??? Illuminati: confirmado). Essa pessoa pode concordar comigo. O que importa é que a internet é eterna, essa página vai existir por um longo tempo e, com ela, eu também vou. O passado ficará para sempre marcado por aqui e o presente vai se moldar a cada segundo, em direção ao futuro. A internet é um lugar maravilhoso, uma TARDIS revolucionária, o melhor livro de história, o melhor canal de televisão, a mais recheada prateleira da biblioteca, a melhor estação de rádio. A internet é um lugar maravilhoso, e só uma pessoa muito fria para não ser capaz de reconhecer isso.

Bem vindos à internet. Por favor, sigam-me.

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